Os Primeiros Passos

Seja porque adquiriu um aquário como presente, ou porque pondera iniciar-se no mundo da aquariofilia, é imperativo ter noções básicas para proporcionar o melhor habitat para os seus animais aquáticos e tornar a sua própria vida mais fácil. Na aquariofilia raramente existem respostas lineares de Sim ou Não, e nem sempre terá a resposta objectiva que procura, mas entenda que tudo o que aprender é importante. Tente não saltar tópicos, e procure manter uma mente aberta ao desconhecido.

Antes de mais, considere que não está a lidar com simples objectos, mas sim com animais, cujas vidas ficarão totalmente dependentes de si e do tempo e dedicação que lhes pode dar. Não terá que levar o peixe á rua para passear, nem terá pêlos para aspirar do sofá, no entanto todos os ecossistemas aquáticos carecem de planeamento, cuidados e manutenção. Mas fique sabendo que o mundo dos aquários não é nenhum bicho de sete cabeças. Se seguir-mos algumas regras básicas, iremos encontrar todo um mundo de beleza e interesse. Aqui ficam algumas dicas a ter em consideração, antes de avançar:

1 - Elabore um plano

Alguém um dia escreveu "Falhar em planear, é planear para falhar". Todos os projectos, por mais pequenos que sejam, beneficiam muito com a elaboração de um plano básico.

Reflicta sobre as condições que tem. Desde a área disponivel para o aquário, o tipo de água a que tem fácil acesso. Como fazer a manutenção, etc

Sabendo isto, que tipo de animais gostaria de ter nesse aquário, quais as suas necessidades e compatibilidades. Planeie as decorações, o "Layout", as plantas, a filtragem, a luz, e todos os restantes equipamentos.

Isto ajuda-o também a manter-se dentro do seu orçamento e evita que seja o seu impulso a decidir por si no momento de comprar. Ao entrar numa loja, saiba de antemão o que tenciona adquirir, com base no seu plano e necessidades.

Quando em duvida, procure informar-se em foruns e páginas da especialidade. E claro, não hesite em questionar a sua loja de confiança.

2 - Equipamentos necessários

Ter uma caixa de vidro cheia de água não é o mesmo que ter um habitat adequado para os nossos peixes. Será necessário adquirir alguns equipamentos e acessórios, para complementar o aquário. Procure escolhê-los conforme a necessidade dos animais e se afecta ou não os parâmetros da água. O mesmo se aplica a decorações, hardscape, movimentação da água, oxigenação, etc

De um modo geral os equipamentos necessários são:

  • Filtro
  • Iluminação
  • Termostato
  • Termometro
  • Kit de Testes de Água
  • Rede (Camaroeiro)
  • Sifão (para extrair água)

É boa ideia procurar obter algum conhecimento sobre os habitats naturais dos seus peixes, pois é neles que evoluíram durante milhões de anos antes de chegarem até si. Será uma fonte de inspiração e permite-lhe escolher os equipamentos e decorações de acordo com os seus requisitos.

Sugerimos também que, ao comprar um aquário, evite tamanhos pouco comuns, pois pode deparar-se com dificuldades em obter equipamentos compatíveis, principalmente no que diz respeito a móveis e iluminação.

3 - Não coloque logo animais no aquário. Primeiro conheça e promova o ciclo do Nitrogénio

Um dos erros mais comuns para iniciantes é introduzir peixes num novo aquário sem este ter um ecosistema capaz de os suportar. Existem elementos extremamente tóxicos para os animais aquáticos que facilmente surgem nos aquários através de decomposição orgânica - dejectos de peixes, comida, organismos mortos, etc. Entre eles a perigosa Amónia. Existem no entanto grupos de micro-organismos que processam a tóxica Amónia e convertem-na numa outra forma menos tóxica, mas ainda perigosa - Nitritos. Um segundo conjunto de bactérias faz o mesmo com os Nitritos e convertem-nos em Nitratos. Os Nitratos são ainda menos tóxicos mas devem ser retirados do aquário, seja através de trocas de água, ou através da absorção por plantas. Quando passamos a ter Nitratos e deixamos de ter Amónia e Nitritos, estamos a perante aquilo que chamamos de Ciclo do Nitrogénio - quando obtemos indicadores da presença dos vários grupos de bactérias no aquário. Este processo ocorre normalmente durante 4 a 6 semanas, mas pode até durar vários meses, daí que testar a água seja tão importante.

Um aquário sem estes micro-organismos é essencialmente uma bomba relógio, prestes a rebentar assim que introduzir peixes e começar a alimentá-los. Daí que promover o ciclo do nitrogénio seja tão importante. Assegure-se que tem 0 Amónia, 0 Nitritos e menos de 20ppm de Nitratos antes de introduzir qualquer animal no aquário.

Saiba como proceder em mais detalhe no nosso tópico dedicado ao Ciclo aqui

4 - Conheça a sua água

Uma das nossas maiores responsabilidades neste hobby é a de proporcionar uma boa qualidade de água, com as características certas para os nossos animais. Para tal devemos conhecer alguns dos seus parâmetros. De um modo geral, os mais importantes são:

  • Temperatura
  • Os elementos constituintes do ciclo do nitrogénio: Amónia (NH3), Nitritos (NO2) e Nitratos (NO3)
  • PH
  • Indicativos de dureza da água: GH, KH e TDS

Um Kit de testes que lhe permita obter informações sobre estes parâmetros será uma ferramenta importante para conhecermos a nossa água. Obtenha um Kit para pelo menos Amónia, Nitratos e PH. A química da água pode ser um tema complexo, mas é importante adquirir, pelo menos, uma ideia geral da importância de fornecer a água com as características necessárias ás espécies que mantemos e sem flutuações bruscas nos seus parâmetros.

Mais informações sobre parâmetros de água aqui

5 - O momento de escolher os animais

Viu numa loja um animal aquático que lhe chamou a atenção? Calma! Primeiro procure obter conhecimento sobre as características desse animal: Como é o seu habitat na natureza? Quanto crescem? De que tipo de água necessitam? Vivem em cardume, ou individualmente? São territoriais? Pacíficos? Do que se alimentam? Depois de respondidas estas questões deve ter em conta o número e compatibilidade das espécies que pretende ter a conviver no seu aquário.

Uma boa norma para quem se inicia, é ter no máximo duas ou três espécies, divididas por área de ocupação no aquário, com uma adequada quantidade de indivíduos por espécie.

Irá também simplificar muito a sua escolha se tiver em conta os parâmetros da água a que tiver fácil acesso. Por exemplo, se a água da torneira for "dura" e alcalina, ou em contra-partida "mole" e ácida, irá ter a vida facilitada se escolher peixes que são originalmente de águas com as mesmas características.

Mais informações aqui

6 - Mas quantos peixes?

Ao inicio irá provavelmente deparar-se com um mundo de opções fascinantes no que diz respeito a peixes e outros animais aquáticos. Mas cuidado, não deixe as suas emoções levarem a melhor. Pondere as suas decisões e não adquira mais peixes do que consegue manter. Mais carga biológica, implica que terá que aumentar o volume de comida e por sua vez, de filtragem e/ou regularidade de trocas de água. Poderá igualmente ter que se adaptar ás características dos novos animais - parâmetros de água, tipo de alimentação, compatibilidade, comportamento, etc, e, claro, cada peixe deve ter uma área adequada para poder circular, explorar e estabelecer territórios.

Uma norma que tem sido muito sugerida é a de ter pelo menos 1 litro de água por centímetro de peixe - no seu tamanho em adulto.

Como referido no tópico anterior, tente também respeitar a natureza do peixes. Se forem peixes de cardume irá desejar obter um grupo, de pelo menos 6 unidades, sendo que quantas mais melhor. Mesmo que isto implique ter menos variedade de espécies, irá verificar um comportamento mais natural, e ficam menos propícios a agressividade e stress.

A sobre-população pode gerar uma "bola de neve" difícil de combater, portanto, facilite a sua vida e comece com poucos animais, deixe o tempo e experiência dar-lhe indicações se pode eventualmente adquirir mais ou não.

7 - Como aclimatizar os animais ao novo aquário

Ao passar de uma água para outra, os nossos animais podem sentir um choque de parâmetros, o que pode causar stress e deixar o seu organismo fragilizado. O seu transporte acarreta sempre riscos e nenhum método de aclimatização é 100% eficaz. Mas vamos referir os passos para a aclimatização que sugerimos ao recepcionar peixes através da nossa loja online:

  1. Desligue as luzes do aquário e reduza as da divisão em questão (para minimizar o stress).
  2. Coloque a boiar o recipiente de transporte no aquário (preferencialmente imóvel a um canto) durante cerca de 15/20 minutos
  3. Coloque uma rede fina com um recipiente por baixo, como um alguidar
  4. Com muito cuidado despeje o conteúdo do recipiente de transporte pela rede, de forma a que os animais fiquem retidos na rede mas a água suja passe para baixo.
  5. Introduza os animais no seu aquário.

Nota: Existem outros métodos mais indicados para transportes curtos ou de menor duração, e muito vai depender da quantidade de oxigénio e parâmetros de água no recipiente de transporte aquando a chegada ao destino.

Mais informações aqui

8 - A importância das trocas de água (TPA's) e manutenção periódica

Naturalmente a qualidade da água onde os peixes vivem vai-se deteriorando com o tempo. Na natureza os rios e lagos têm a sua água restabelecida através da evaporação e precipitação, filtrada por processos naturais e remineralizada ao percorrer pelas serras e solos. Em casa fica a nosso cargo reintroduzir regularmente água limpa e adequada para os nossos animais.

Uma rotina habitual é a de fazer uma troca parcial de água (TPA) uma vez por semana, entre 20 a 30%, sendo que a periodicidade e quantidade irão depender de uma série de factores: o tamanho do aquário, a quantidade de animais, quantidade de comida que se dá, a quantidade de plantas (que influencia a absorção de nitratos), e outros factores circunstanciais.

Uns minutos antes de fazer a troca de água desligue o termostato e o filtro.

Independentemente da forma como extrai e reintroduz a água, é importante compreender que a troca deve ser parcial e gradual, evitando uma alteração súbita de parâmetros, com especial atenção á temperatura.

Apesar da água da torneira variar muito conforme a localização geográfica, de um modo geral nunca a deve adicionar directamente da torneira no aquário devido ao cloro. Planeie as suas trocas de água com antecedência e deixe a água limpa de repouso durante um período de pelo menos 24h antes de a utilizar, de forma a permitir a evaporação do cloro, podendo levar até perto de uma semana para evaporar totalmente. Em alternativa poderá utilizar um condicionador que neutralize a sua toxicidade.

Procure ser disciplinado e tenha uma rotina de manutenção periódica, não só para as trocas de água mas também para limpar os vidros do aquário, o solo, o filtro, remover algas, fazer testes á água, etc. Mais info aqui

9 - Seja paciente e planeie a longo prazo

O ditado "Quem espera sempre alcança" aplica-se bem ao mundo da aquariofilia. É muito fácil deixar-mo-nos entusiasmar com alguma nova e excitante ideia, mas a natureza opera a seu tempo. Tente não criar expectativas a curto prazo. O erro humano é muitas vezes o factor predominante quando algo corre mal nos nossos aquário:

  • Aguarde a conclusão do ciclo do nitrogénio antes de adicionar animais
  • Procure sempre soluções naturais e graduais para alterar as características da sua água
  • Não exceda as doses recomendadas para medicações ou fertilizantes
  • Evite compras por impulso. Informe-se antes de comprar
  • Não queira mudar tudo de uma vez
  • Não tenha pressa de adicionar mais animais

Sempre que desejar fazer alguma alteração ao seu aquário planeie com antecedência. Se necessário tome nota de todos os passos de forma a garantir que faz tudo em segurança e na ordem correcta. E considere que pode levar mais tempo do que o previsto.

As plantas e animais não seguem os seus horários ou expectativas. Por vezes levam muito tempo a crescer e a reproduzirem-se. Desfrute do ecossistema que se desenvolve á sua frente, sem pressas, e vai ver que vai tudo vai valer a pena.

10 - Procure sempre saber mais

Se está a ler o conteúdo desta página, já está a fazer a coisa mais importante - a procurar conhecimento. Ao contrário da experiência de ter cães ou gatos, que respiram como nós, e partilham connosco o mundo terrestre, os peixes habitam um mundo bem diferente, com necessidades dramaticamente distintas das dos animais terrestres - algo que pode deixar-nos inicialmente confusos e impotentes sem o conhecimento adequado. Posto isto, além de ser recomendado ler integralmente o conteúdo desta página, existem outras fontes úteis:

  • Internet: Vivemos em plena revolução da informação, e ao contrário do que acontecia há décadas atrás, hoje não estamos limitados aos livros que encontramos na biblioteca e ao aconselhamento do vizinho. Use e abuse dos motores de busca, do Youtube, visite fóruns da especialidade e páginas de aquariofilia nas redes sociais. A internet é actualmente a fonte numero 1 de conhecimento por boas razões. Mas faça um favor a si mesmo e tente sempre cruzar informações entre várias fontes.
  • Livros: Existem várias publicações destinadas á aquariofilia, seja em português ou noutras línguas, muitas delas com informações suportadas por estudos, sólidas bases científicas e escritas por entidades com muita experiência na matéria. Vale sempre a pena dar uma espreitadela na biblioteca local, na livraria, ou mesmo por livros em 2ª mão.
  • Lojas: Geralmente é o primeiro local de onde obtemos informações. Mas cautela! Muitas lojas de animais têm peixes, apenas como uma fonte adicional de lucro, e é bastante comum os próprios responsáveis e empregados terem conhecimentos muito limitados, ou simplesmente não terem tempo para nos informar devidamente. Quem não conhece a história daquele lojista que vendeu aquele peixe dourado num pequeno globo? Sempre que possível procure lojas especializadas em aquariofilia, seja em lojas físicas ou online. Provavelmente estes lojistas já estiveram na mesma situação que nós.

Antes mesmo de comprar um aquário...

Não ofereça aquários e peixes sem conseguir educar o destinatário com as principais noções de aquariofilia e, mais importante ainda, sem que o mesmo afirme ter interesse em ser responsável pelos animais.

Ter um aquário implica algum investimento de dinheiro e energia. Deve considerar o aquário, móveis, acessórios, ferramentas de manutenção, substratos, decorações, alimentação, medicação, despesas de electricidade, água, o custo dos próprios animais, etc. As despesas têm tendência a diminuir muito após o investimento inicial, mas é imperativo que faça as contas a este investimento com base nas suas capacidades a longo prazo.

Procure informar-se sobre as características da água a que tem acesso. Procure saber se a água é dura, ácida ou alcalina e se está exposta a químicos e poluentes. As características da água vão condicionar as opções de animais que pode manter, e alguns cuidados a ter. Pode obter esta informação com um kit de testes para aquários, ou em alternativa, questionando lojas de aquáriofilia da sua área, aquaristas locais ou até mesmo os municípios.

Considere a eventualidade de estar impossibilitado, por algum motivo, de cuidar do seu aquário por um longo período de tempo (seja por férias, doença, etc). e elabore um plano B. Tenha sempre como salvaguarda um alimentador automático ou um familiar ou amigo para cuidar dos seus animais quando não o conseguir.

Enquadre o seu hobby com o seu ambiente e com as pessoas que o rodeiam. Verifique o espaço que tem em casa para o aquário e para todos os equipamentos associados. O móvel aguenta com o peso? O chão vai estragar-se assim que cair água? O som emitido pelo aquário vai importunar alguém? O aquário vai estar exposto ao sol? São todas questões que deve fazer. E claro, certifique-se que o seu hobby não se torna um incómodo para os que o rodeiam.

Evite compras por impulso. Cada peixe, cada invertebrado, cada planta, tem determinadas características e necessidades. Procure obter informações e considere se tem as condições ideais para eles.